segunda-feira, 20 de maio de 2019

Primeiras apresentações de "Homens, sede humanos! - Rousseau e a Roda dos Enjeitados": peça curta de Carmem Toledo


A primeira montagem de minha peça curta "Homens, sede humanos! - Rousseau e a Roda dos Enjeitados", realizada pelo Coletivo São Paulo de Literatura, foi brindada com várias participações mais que especiais e cheias de cultura! A obra foi apresentada no Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (durante o Sarau Cai na Roda, em prol da restauração do acervo desta instituição) e no Palacete Conde de Sarzedas - Museu do Tribunal de Justiça de São Paulo (durante a programação da 17ª Semana Nacional de Museus).

A partir de trechos autobiográficos da obra de Jean-Jacques Rousseau, o texto conta a relação do filósofo suíço com a Roda dos Enjeitados (ou dos Expostos), um aparato de madeira e ferro em que bebês eram deixados por suas mães, que não podiam criá-los. O pensador - célebre por obras como "Emílio ou Da Educação", "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens" e "Do Contrato Social" - entregou seus cinco filhos à roda do Hôpital des Enfants-Trouvés, uma instituição religiosa francesa destinada a este fim, criada por Vincent de Paul (São Vicente de Paulo). Este objeto também existia em vários outros países, inclusive no Brasil, onde ainda era usado em pleno século XX. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo mantém exposta em seu museu a roda que se encontrava em um de seus muros, assim como os livros em que estão registrados os dados das crianças que ali foram entregues. A instituição tem feito a restauração deste acervo e, para ajudar na arrecadação de fundos, o Coletivo São Paulo de Literatura idealizou o "Sarau Cai na Roda", um evento cultural movido a arte, poesia e música. Para enriquecer ainda mais o evento, foi realizada esta peça curta de minha autoria. E que prazer foi ver este sonho se concretizar!


O elenco foi formado por entusiastas da difusão cultural, batalhadores da arte e da literatura. Na primeira apresentação (16/05), quem deu vida às personagens foram:

Thais Matarazzo, escritora, jornalista, editora e pesquisadora musical (Jean-Jacques Rousseau idoso); Rodrigo Gutenberg, historiador (Voz em off - Rousseau narrador); Hilda Milk, escritora e poetisa (Jean-Jacques Rousseau adulto); Ana Jalloul, poetisa, palestrante, diretora artística e consultora de marketing (Thérèse Levasseur); Gilberto Cantero, fotógrafo (Isac Rousseau - pai de Jean-Jacques Rousseau); eu, Carmem Toledo, filósofa, escritora e dramaturga, autora desta peça (Jean-Jacques Rousseau criança). 

Um detalhe interessante sobre um dos objetos cênicos: A bengala usada por Rousseau idoso (interpretado por Thais Matarazzo) pertenceu ao arquiteto Ramos de Azevedo, responsável pelo Theatro Municipal de São Paulo, Pinacoteca do Estado, Casa das Rosas, Cemitério da Consolação, entre várias outras obras notáveis. 

Quem esteve presente na ocasião foi a sra. Denise (na foto ao lado, de óculos e cachecol), irmã da grande cantora Dolores Duran! Ela enriqueceu o sarau e prestigiou nossa peça. 


Foto: Paulo Watanabe
Na segunda apresentação, que ocorreu sábado, 18/05, durante a cerimônia de entrega do prêmio pelo Concurso Poético Roda dos Expostos em versos (17ª Semana Nacional de Museus, realizada pelo Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM) - pelo qual também tive a honra de ser agraciada com o 1º lugar - tivemos participações mais que especiais! Além do elenco original, contamos com a auxiliar do museu, Maria Flor, no papel de Thérèse. Foi sua primeira vez na atuação! Vinda do Maranhão, Maria começou trabalhando na limpeza e hoje é auxiliar da instituição. Ela surpreendeu a todos e se entregou à personagem, emocionando-se no final.


Durante a terceira apresentação, no Sarau em Homenagem às Mães (parte da programação da 17ª Semana Nacional de Museus) ocorrido no Palacete Conde de Sarzedas (Museu do Tribunal de Justiça de São Paulo), tivemos o prazer de contar com a participação especial de minha mãe, Irene Gongora Rodrigues de Toledo (que fez a voz em off) e do ator e diretor Paulo Watanabe

Desta vez, quem interpretou Thérèse Levasseur foi a talentosa artista plástica e organizadora de eventos Camila Giudice, que é descendente do escritor Monteiro Lobato! Outro detalhe importante é que a boneca utilizada como "bebê entregue à roda" é uma Emília da coleção de Camila.
Quando Monteiro Lobato escreveu o "Sítio do Picapau Amarelo", o pensamento de Rousseau estava presente em sua criação e há até referências a sua obra (sobre isso, indico a leitura dos seguintes artigos: https://www.unicamp.br/~jmarques/gip/AnaisColoquio2005/cd-pag-texto-15.htm e http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema7/0724.pdf).

Considero esta maravilhosa experiência algo antropofágico: devoramos a Filosofia, a História, a Literatura; unimos a roda de Paris à roda de São Paulo; realizamos a mágica de emprestar a bengala de um arquiteto brasileiro que viveu entre os séculos XIX e XX a um filósofo suíço do século XVIII; entre nós, o DNA de Monteiro Lobato e Dolores Duran; Emília e Emílio se encontraram... 
"Só a Antropofagia nos une!" 

Evoé!

Carmem Toledo



Visitem também meu blog sobre o filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau: 


Autoria:

"Culturofagia" (culturofagicamente.blogspot.com) é de autoria de Carmem Toledo. Está proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui publicado, inclusive dos disponibilizados através de links aqui presentes. A mesma observação se estende a todos os blogs e páginas da autora ("Voz Neurodiversa", "O Caminhante Solitário", "Sophia... Ieri, Oggi, Domani") e toda e qualquer criação, seja em forma de texto ou ilustração, por ela assinada.

Culturofagia

Voz Neurodiversa

O Caminhante Solitário

Sophia... Ieri, Oggi, Domani