Um desenho a lápis em um papel amarelado pelo tempo pode revelar muito mais do que imaginamos...
No dia das crianças de 1999, eu tinha 14 anos e era fã do Chico Buarque. Naquela época, tinha hiperfoco em suas letras, sobretudo aquelas relacionadas à política. A menção feita na parte inferior do desenho é de "Gota d'água", canção de um famoso musical homônimo de 1975, de autoria do próprio Chico e de Paulo Pontes.
Entretanto, tomada isoladamente e descontextualizada, poderia ser um desabafo de alguém que acabava de sair da infância e não se sentia encaixada entre seus pares... Alguém que sempre usou e abusou do masking (mascaramento social) para tentar fazer parte de grupos que não a queriam.
Da data deste desenho para cá, muita coisa aconteceu, várias "gotas d'água" caíram e a metáfora foi cada vez melhor compreendida. Por mais que as mágoas pareçam grandes demais e pensemos que é insuportável, sempre há forças para recomeçar... Por outro lado, é bom deixar o "pote transbordar" às vezes, ou seja, permitir-se exceder e até gritar: "não dá mais!". É assim que evoluímos e não permanecemos apáticos, inertes e passivos. Sempre "pode ser a gota d'água". E se ela vier, que transborde!
Carmem Dalida
(Carmem Toledo)
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