"Love in Portofino" é uma canção especial no repertório da artista, pois, além dos ares italianos da pronúncia, mistura três idiomas em sua letra: Inglês, italiano e francês. Sua qualidade é merecidamente reconhecida, tanto que foi regravada pelo tenor Andrea Bocelli em 2013, o que prova que a música é atemporal.
A letra pode ser interpretada de forma tristemente irônica se a relacionarmos à história de vida de Dalida, marcada por amores que não prosperaram. A canção fala sobre alguém que acredita em seus sonhos, com a convicção de que não haveria mais tristeza em seu caminho, depois de ter encontrado o amor na comuna de Portofino, no norte da Itália. Na segunda parte, faz-se referência ao casamento acompanhado pelo som do sino da igreja, que naquele tão esperado dia, fora ouvido não apenas em Portofino, mas também nas vilas vizinhas.
Enquanto isso, na época da gravação (1959), Dalida aguardava o sonhado casamento com Lucien Morisse, radialista e produtor. O problema é que ele era casado e, apesar de não viver mais com a esposa, prometia que iria se separar, mas não cumpria. Finalmente, Lucien se divorciou em 1961 e então, pôde firmar laços matrimoniais com Dalida. Entretanto, por sempre estar envolvido demais com o trabalho, o diretor da rádio Europe não dava a atenção devida à nova esposa, que logo conheceu um jovem ator e artista plástico chamado Jean Sobieski e se tornou sua amante. Assim, o casamento de Dalida chegou ao fim em poucos meses.
Dali em diante, foram vários relacionamentos finalizados rapidamente, por motivos relacionados ao excesso de trabalho, por diferenças de objetivos e os piores de todos: o suicídio (vejam o que já escrevi sobre seu relacionamento com o cantor e compositor Luigi Tenco) e uma gravidez indesejada interrompida por um aborto clandestino. O próprio Lucien Morisse, seu ex-marido, cometeria suicídio em 1970.
É triste constatar que o velho sino não cantou a felicidade para Dalida, que sonhava formar uma família. Entretanto, é doce assistir à sua interpretação cheia de esperança e juventude, pensando que, ao menos naquele momento em que cantava uma de suas primeiras canções, ela se sentia feliz.
No vídeo a seguir, presto uma singela homenagem à eterna Dalida, cantando "Love in Portofino", música de J. Larue, F. Buscaglione e L. Chiosso gravada pela artista em 1959. Trata-se de uma performance de imitação, em que busco reproduzir seu gestual e, obviamente, seu marcante sotaque italiano na parte cantada em francês - algo que não pode faltar em uma interpretação de Dalida. Deixo claro, desde já, que não sou cantora profissional, tampouco nasci com o dom do canto, mas estou me esforçando para melhorar nesta arte, praticando-a com todo respeito à diva ítalo-egípcia, que é inimitável.
Aproveito para ressaltar que sotaques - de quaisquer origens - não são "errados", muito menos "feios". São marcas da oralidade que trazem consigo uma bagagem cultural e linguística. Todos os sotaques são belos - e nós, brasileiros, vivemos em um país onde isso pode ser comprovado diariamente.
Carmem Toledo
http://culturofagicamente.blogspot.com
Acompanhem minhas performances em homenagem à cantora Dalida: Dalida... À ma manière
Querem saber mais sobre a vida e a carreira da artista?
Acompanhem as outras postagens da série: Tributo a Dalida.
Leiam também a história da tragédia do Festival de San Remo em 1967, que envolveu diretamente a diva: Homenagem ao cantor e compositor Luigi Tenco.
Algumas fontes recomendadas a quem deseja saber mais sobre Dalida:
Site oficial da cantora: https://dalida.com/
Blog brasileiro dedicado a Dalida (por Alexandre Korrea): http://dalidabrasil.blogspot.com/